Já escrevi em textos anteriores um pouco sobre tomar decisões usando limitadores, ou nosso bom e velho: Não! Neste texto mergulho de maneira mais profunda neste jeitinho particular e fantástico de olhar sob outra ótica nossa maneira de tomar decisões.
Sabemos que temos um sistema rápido do nosso cérebro que toma decisões de forma instantânea, irracional e cheia de viéses. Para combater isso, já conversamos sobre nos conhecer mais, dar luz às nossas sombras e começar por entender que não sabemos tudo, e que não sabemos o que não sabemos.
Portanto, uma maneira legal de desviar nossa tomada de decisão irracional, seria torná-la mais racional.
Desenhando com o lado direto do cérebro
O livro Desenhando com o lado direito do cérebro, de Betty Edwards, é um livro para você desenhar melhor. Mas é muito mais do que exercícios práticos sobre instrumentos de desenho e exercícios de luz e sombra, ele fala sobre neuroplasticidade e educação, enfim, um livro bem completo.
Nele a autora menciona estudos sobre neurociência que mostram que embora ambos os hemisférios cerebrais sejam semelhantes visualmente, eles tem uma maneira única de perceber nossa realidade: o hemisfério esquerdo parece estar mais conectado com a fala e a linguagem e o hemisfério direito mais conectado com a percepção visual (e isso ocorre na maioria dos destros e canhotos).
Portanto, as pesquisas indicam que quando estamos desenhando uma imagem realista complexa (pense num autorretrato) é o hemisfério direito (o visual) que está ativado. E quando isso acontece rapidamente nomeamos as partes que compõe o todo. Imagine sua mente ao desenhar um rosto: “estou desenhando um nariz, agora os olhos, qual a proporção entre os olhos e a boca?, a testa entra aqui..”
Quando nomeamos as partes começamos a ativar o lado esquerdo, o da linguagem, e aí perdemos a oportunidade de usar o lado direito, visual, em sua máxima potência. Qual a dica aqui? Exercitar o desenho copiando objetos conhecidos de ponta cabeça. Perdemos as referências, paramos de nomear as partes e ativamos integralmente o lado visual que nos possibilita desenhar melhor.
(…) o primeiro passo para aprender a desenhar não é ‘aprender a desenhar’, e sim aprender a acessar à vontade aquele sistema no cérebro que é o apropriado para desenhar, pois, permite que você veja daquela maneira especial que um artista vê.
(…) Essa habilidade para ver as coisas de outra maneira e permitir que a epifania ocorra em um nível consciente tem muita utilidade na vida, inclusive para resolver problemas ligados à criatividade.
Então nós vamos ter de colocar nossos problemas e decisões de ponta cabeça? Quase isso.
A via negativa
A mais extraordinária - e mais robusta - contribuição para o conhecimento consiste em eliminar o que julgamos estar errado (...)
temos muito mais consciência sobre o que está errado do que sabemos sobre o que está certo, ou, para reformular de acordo com a classificação frágil/robusto, o conhecimento negativo (o que é errado, o que não funciona) é mais robusto ao erro do que o conhecimento positivo (o que é certo, o que funciona)
Nassim Nicholas Taleb em seu livro Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos explica a Via Negativa como sendo uma estratégia substrativa. Tem-se mais certeza no que não vai dar certo, no que não queremos, no que não tem continuidade. E assim, vamos descartando caminhos alternativos, uma negação por vez.
No início do livro VI Via Negativa ele explica que este método começou como uma forma de descrição direta, colocando em evidência a descrição de um mesmo ponto de maneira negativa, dizendo tudo aquilo que o objeto não é.
Lembre-se que não tinhamos um nome para a cor azul, mas conseguiamos passar muito bem sem essa palavra - ao longo de boa parte da história humana, permanecemos culturalmente, e não biologicamente, daltônicos. (…)
Quase tudo que nos rodeia e tem importância é difícil de apreender em termos linguísticos - e, na verdadem quanto mais poderoso é algo, mais incompleta nossa compreensão linguística acerca dele.
Parece papo de empreendedor de palco falar que se sente orgulhoso de todas as falhas, ou de tudo aquilo que escolheu não fazer, mas o que o Taleb defende em sua interpretação da noção antiga de Via Negativa é que devemos eliminar tudo que é distração para termos o foco verdadeiro do caminho a seguir. Para finalizar ele cita Steve Jobs:
Inovação é dizer 'não’ para mil coisas
O poder de um gracioso não
O livro Essencialismo: A disciplinada busca por menos trata a busca pelo que é essencial em nossas vidas. Este livro vale um texto só dele, mas trago aqui, para finalizar minhas reflexões sobre olhar nossas decisões sob outro ângulo, um extrato do capítulo 11 entitulado Ouse.
O autor argumenta que nos sentimos pressionados a concordar e dizer a sim a todo tempo por pressões sociais, e ele nos convida, baseando suas explicações com várias histórias pessoais e de personalidades diversas em como podemos parar de dizer sim para tudo, e por consequência, deixar de nos sentir culpados e arrependidos. Vários 'sims’ sem reflexão podem nos desviar do nosso foco, da nossa origem, valores e propósito.
Portanto, ele fala que devemos aprender a dizer não, de forma firme, resoluta e graciosa. Baita desafio hein? Penso que em uma cultura não tão direta como a brasileira, temos um desafio extra. E talvez minha saída proposta seria pedir uma pausa. O famoso: posso pensar e te respondo depois?
Dando o tempo necessário para tomarmos esta decisão olhando a imagem de cabeça para baixo. Ou a outra forma que Greg Mckeown, o autor de Essencialismo, diz ser uma saída é dizer sim acrescentando o: o que eu devo repriorizar?
Mudando a perspectiva - a conclusão
Então, como olhar nossas decisões de outra forma? Mudando a forma como respondemos a ela de forma imediata e intuitiva. Giramos a figura de ponta cabeça para acessarmos o lado do cérebro que ativa integralmente o lado visual e não deixa o lado linguístico entrar no caminho.
Partindo do que não é essencial e tirando tudo que é negativo, podemos tomar melhores decisões. Desde aquela rápidas do dia a dia até as grandes decisões que nos paralisam.
Eu continuo no trabalho de ler e estudar sobre correr riscos inteligentes e saudáveis para tomar decisões mais legais. Me conta, fez sentido por aí?