Risco, um pequeno resumo de uma grande história
Como a gestão do risco realmente começou e como eu faço a minha ultimamente

Como a gestão do risco realmente começou e como eu faço a minha ultimamente
Este artigo foi baseado na parte inicial do livro Desafio aos deuses — a fantástica história do risco, do autor Peter L. Bernstein, em sua versão em inglês de 2016. O qual, aliás, aconselho a todos os entusiastas e profissionais do ramo que leiam :) A parte final é baseada nas minhas próprias andanças e aprendizagens mesmo.
Historicamente, risco sempre teve conexão com a mensuração de nossa realidade e instinto de sobrevivência. Por muito tempo — aliás, na maior parte da história da humanidade — o futuro era uma grande incerteza.
Foi apenas depois da Idade Média, que ferramentas foram desenvolvidas para avaliar esta incerteza e portanto, o risco. E foi somente a partir desta era, que esta ideia revolucionária de domínio do risco tomou seu lugar, e que seres humanos não ficaram mais tão passíveis em relação aos acontecimentos da natureza.
A palavra risco, por tanto tempo relacionada com o conceito de perda, tem sua origem na palavra risicare, do italiano antigo, que significa desafiar, apostar.
Acho a ideia, a imagem por trás da semântica, simplesmente fantástica! Quais são os riscos, as perdas e ganhos, de apostar em uma ideia nova, em um processo diferente? Este significado, por consequência, é um resumo do que foi o Renascimento: a libertação do espírito humano para experimentação, inovação e exploração.
Um advogado e um físico sentaram em um bar (sendo a mesma pessoa)
A probabilidade, como um conceito sistemático, realmente começou por volta do ano 1550. Geralomo Cardano, um advogado italiano, físico e amigo de Leonardo da Vinci, gostava de apostar. E para maximizar seus ganhos, ele começou a investigar os conceitos básicos de probabilidade quando jogava dados.
Seu trabalho e estudos se provariam muito mais tarde, mais um século depois, quando Blaise Pascal e Pierre de Fermat definiram um método para calcular probabilidades que permitia prever resultados futuros, mais uma vez, com o mundo da apostas como direção.
Enquanto em jogos de azar, os resultados das tentativas individuais não são suficientes para prever com certeza os próximos resultados, os matemáticos afirmaram que, coletivamente, os resultados de um longo período de observações mostravam certa regularidade. E este foi o conceito que formou a base da tomada de decisão em gerenciamento do risco.
Com o passar dos anos, os matemáticos transformaram a teoria da probabilidade em um poderoso instrumento para organizar, interpretar e aplicar informação. Seu primeiro uso foi na área de ciências atuariais em Londres, com as tabelas de expectativa de vida que foram base para o financiamento, por parte do governo, da venda de seguros de vida. A lei dos grandes números e métodos de amostras estatísticas apareceram e foram alicerce em atividades modernas que vão de testes de novos medicamentos a pesquisas de opinião pública.
A humanidade por trás da escolha do risco
Construímos, como humanidade ávida por conhecimento, vários pilares deste caminho ao gerenciamento do risco moderno. Passamos por descobertas, por definição de teorias e aplicabilidades gerais em vários campos do conhecimento.
Um grupo de pensadores e estudiosos colocaram a análise do passado e a previsão do futuro à serviço do presente, e mostraram ao mundo como entender o risco, mensurá-lo, e pesar suas consequências, convertendo assim, a tomada de risco em um dos principais catalisadores da sociedade moderna.
Risco, portanto, seria uma escolha. A escolha no que apostar e a escolha por cada uma das ações derivadas daquilo que decidimos. Logo, a história do risco e a liberdade desta escolha nos ajuda a entender e definir o que significa ser um ser humano.
Ainda assim, já vimos que as ciências comportamentais nos mostram que esta escolha não é tão racional assim.
A provocação final de hoje, e minha própria experiência
O quão livre estamos para escolher nossos riscos?
Meu caminho nesta jornada de estudar as ciências comportamentais, como tomamos decisões e a tomada e o gerenciamento de riscos, é sempre duvidar das minhas certezas absolutas.
Faço isso lendo mais, parando para conversar com mais pessoas, olhando tudo com outra perspectiva.
Na prática: vivenciando novas experiências (um café novo na esquina já anda me bastando) e vendo — literalmente — novas coisas (mesmo em lugares que eu já conhecia). Sou hiper visual e este recurso me ajuda muito. E aí é segurar a impulsividade que seria escolher tomar um risco apenas baseada em meus viéses.
As vezes esta ação me leva a paralisia. Um exemplo prático e banal é o hiato deste texto com o meu último publicado.
Por fim, busco olhar a minha própria humanidade, me dar um tapinha nas costas e me lembrar que amanhã é sempre uma nova oportunidade de começar de volta. Mais atenta e mais antenada que decidir tomar um risco, é saber que decidi também por suas consequências (e claro, a ocultas também).